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Visibilidade lésbica: luta por direitos e gramáticas de diversidade | PD&I

No dia 19 de agosto, foi celebrado o Dia do Orgulho Lésbico, data que rememora o momento marcante de 1983 em que ativistas ocuparam o Ferro’s Bar, em São Paulo, para protestar contra abusos e preconceitos. Hoje, dez dias depois, comemoramos o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, outra data importante para reafirmar a presença, os direitos e a luta das mulheres lésbicas na sociedade brasileira. 

A origem dessa data remonta ao I Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE), ocorrido em 29 de agosto de 1996, também na cidade de São Paulo. O evento marcou a primeira vez em que se discutiu de maneira ampla e organizada a vivência e os desafios enfrentados pelas mulheres lésbicas no Brasil. Desde então, o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica tornou-se um marco anual de conscientização, educação e empoderamento, promovendo a visibilidade desse grupo de mulheres e buscando a quebra de estereótipos e preconceitos.

Para celebrar esta data, o Programa de Diversidade & Inclusão relembra a carreira e impacto de duas mulheres lésbicas com grande influência para a literatura e para o ativismo social: Cassandra Rios e Audre Lorde.

Cassandra Rios foi a primeira autora a conquistar, em 1970, a marca de 1 milhão de livros vendidos no Brasil, com boa parte deles tendo como temática central a homossexualidade. Por meio de seus romances, muitos dos quais foram publicados (e censurados) nas décadas da ditadura militar, ela trouxe à tona a vivência das mulheres lésbicas em uma sociedade predominantemente conservadora e repressora. Apesar da perseguição e das críticas enfrentadas, Rios alcançou uma popularidade significativa e deixou um legado importante ao abrir espaço para discussões sobre a diversidade sexual e de gênero na literatura brasileira.

Audre Lorde, nascida nos EUA apenas dois anos após Cassandra no Brasil, emergiu como uma influente poeta, feminista e ativista norte-americana. Em suas obras, não apenas deu visibilidade à sua vivência como mulher lésbica assumida, mas o fez a partir de uma perspectiva interseccional, apresentando as especificidades da vida de uma mulher, lésbica, e negra. Assim, Lorde destacou a importância de se reconhecer e valorizar as diferenças individuais, ao mesmo tempo em que se luta por justiça social e igualdade. Ao falar sobre a importância de vencer o medo e se expressar sobre esses assuntos, ela disse: “Quais são as tiranias que você engole dia após dia e tenta tomar para si, até adoecer e morrer por causa delas, ainda em silêncio?”

Tanto Rios no Brasil quanto Lorde nos Estados Unidos são exemplos de mulheres lésbicas que desafiaram um cenário político, jurídico, social e cultural que buscava negar suas existências e silenciar suas vozes. Cassandra Rios, por um lado, sendo identificada como “escritora maldita” pelos representantes da ditadura brasileira que a perseguiam e censuravam suas obras; e Audre Lorde, por outro, tendo que lidar não somente com a lesbofobia, mas também com o racismo estrutural destrinchado com detalhes em algumas de suas obras. 

Embora em contextos diferentes, portanto, ambas são marcos para a importância da representação e da voz de mulheres lésbicas na sociedade, inspirando gerações futuras a se expressarem, se empoderarem e continuarem lutando por um mundo mais inclusivo e diverso — não apenas neste Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, mas sempre.
 

As manifestações expressas por integrantes dos quadros da Fundação Getulio Vargas, nas quais constem a sua identificação como tais, em artigos e entrevistas publicados nos meios de comunicação em geral, representam exclusivamente as opiniões dos seus autores e não, necessariamente, a posição institucional da FGV. Portaria FGV Nº19 / 2018.

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